Capítulo 1. Na Fábrica
Pela primeira vez, abri os olhos. E o que vi
foi magnífico: os fabricantes, que trabalhavam afincadamente, a fazer
acabamentos no pelo; os tapetes rolantes que nos transportavam para as caixas,
onde os peluches eram impiedosamente colocados, seguindo depois, em camiões até
às suas respetivas lojas; o cheiro a mofo que invadia a fábrica… eu tinha sido
criado. E faria parte daquilo tudo. Faria uma criança feliz. Depois, à moda dos
elefantes de peluche, contar-lhe-ia tudo sobre a fábrica do Pai Natal. Mas…
Seria mesmo ele o dono disto tudo? Coitado do homem, só podia ser pobre! Entre
pagar os impostos do edifício e da sua casa, entregar o salário aos duendes,
comprar comida para ele e para as renas, abastecer o trenó… E comprar materiais
para nos fazerem! Depois vi tudo na minha cabeça. Não podia ser, se íamos em
lojas para camiões… Então… Existiria o Pai Natal? De repente percebi que já
tinha passado pelos costureiros, e os tapetes, que iam cada vez mais rápido,
como que a querer despachar-me depressa, estavam a chegar ao fim. Era a minha
hora. Tinha que ser.
Estava com receio, mas ao mesmo tempo, não me
podia mexer e por um segundo, desejei poder fazê-lo até que, na caixa, ainda
vazia. Perfeito. Ia levar com todos em cima. Como se já não fosse
suficientemente pequena para um elefante de metro e meio, imagine-se mais três.
A viagem ia ser dolorosa.
Estava completamente dormente quando o camião
finalmente parou. O edifício dizia “Armazém d…”. O resto não se lia pois era de
noite e as outras letras tinham as lâmpadas fundidas. Achei estranho, pois
naquela loja, além do nome ser esquisito, estava tudo empacotado. Quando
acenderam a luz, veio alguém, mas antes de ver quem era, o homem que me
carregava, tapou a fresta por onde, até ali, eu tinha espreitado. Afinal, estar
em baixo até me tinha trazido uma vantagem… Estava lá tão quentinho, que
adormeci, apesar das dores.
O dia seguinte foi uma agitação. Andávamos
para lá e para cá, sempre dentro da maldita caixa. Se as pessoas não nos viam,
como é que nos compravam? Por fim, ficamos permanentemente, e todos foram
embora. E estava cada vez mais dorido. Sem nada para além dos meus pensamentos
confusos. Já teria sido comprado? Seria mesmo o “Armazém d…” uma loja? Iria lá
ficar para sempre? Com tudo isto adormeci muito mais tarde do que na noite
anterior.
Lara Alves, do 6.º A
Esperamos a continuação...